Amor fluente

Alta madrugada, não posso negar que amo a noite, meio solta em pensamentos acolchoados e ainda aconchegada nos acontecimentos de ontem, um dia cheio e simples, em nuances suaves... Um desses dias sem pressa, pouco ego, muita luz e pra fechar: boa conversa.

Uma presença boa me envolve, a sua energia ficou em mim e não me embaraça (é aí que está a graça). Neste torpor promovido pelo cansaço, fisicamente eu relaxo, das velhas defesas esqueço fácil, mergulho nesse fluir.

Encontrar você é como navegar num rio, águas profundas cheias de movimento, não há quebras, nem sais que me irritem, lhe conhecer é uma doce descoberta, que me permite ver meu próprio reflexo nas margens das suas palavras. E elas derretem meus ouvidos e se unem às suas águas enquanto a minha fala canta sussurros ritmados junto à sua respiração.

Podes ouvir o canto dos pássaros? Sim, é claro. O ruído mais alto é um riso empolgado. Daí pensamentos saltam como peixes na direção da correnteza, como se quisessem ir além do seu próprio espaço, revelando que há algo além do que a superfície enseja... Pura beleza, natural, de fato!

Nada mais ordinário e precioso que a água, por isso lhe comparo, ser sua assim tão fácil é uma afronta ao meu passado, me faz tão permeável, nesse espaço que disseram ser tão raro, agora: gratuitamente conquistado (sejamos gratos).

Pela manhã desperto do sonho sem perder o embalo, pois este sentimento flui, molha e aquece profundamente, você existe e eu posso achá-lo na oportunidade do próximo mergulho, quando despida de algum orgulho possa outra vez gozar do seu abraço.

[Tema sugerido pelo poeta Ralph de Oliveira]