Te vejo - um desejo além daqui
Na tua pele, o suor de passos leves, como o orvalho que prende nas superfícies das folhas.
Despontam as minhas matrizes, meus pressupostos, a sede primeva das raízes profundas, que devassam o meu chão em busca da seiva da vida.
Peito aberto na tarde parda, toca-me o rosto o sopro divino, que vai e alcança os teus cabelos negros, e dança com eles no dispersar da cidade.
Me vejo à míngua do teu cheiro ao anunciar do crepúsculo, e sinto o hálito da brisa aquecida no ímpeto do astro-rei.
Finco os pés na terra - sonho com o mar, que deita seus lençóis para além da varanda.
No arrepio da pele quase tocada, busco a seda que costuras com as pontas dos dedos, com a chama em tua língua, e assim te vejo, vívida, noturna, brincando de dançar com o vento, saciando o ar com os teus movimentos.
A faísca que cospe o choque entre dois mundos.
O medo assombra, feito pássaros, farfalhando as suas asas nos ambientes do meu céu, e eu arrisco outro passo nos espaços onde eu não costumo caber.
A minha palavra basta-se no olhar;
O meu desejo, no suspiro que engasgo ao desabrochar da tua derme.