O Corpo da Moça Bonita

Quando me pego consumindo, pelo emocional, do ilusionismo que o ego produz, de que somos independentes, cheios de certezas,, posses, e rompanças, vez ou outra, dá o estalo na mente, o rebaixo ao nível do instinto, passando rememorar os tempos(que não foram poucos), onde convivi com os detritos que o corpo produz, revelando muitas obviedades.

A maior delas, ao fato de que, cem por cento do corpo físico, a qual a alma que habito, se vale para locomover no mundo, é feito de matéria inanimada, vivificado por uma série da fatores orgânicos, que, ao final, leva tudo ao lixo, ao descarte.

O destino final, definitivamente, se dá, quando, no funcionamento perfeito do corpo, ou quase nisto, o ser humano, disposto animicamente, faz a higiene pessoal; no banho diário, na escovação dos dentes e dos cabelos, na troca da roupa limpa, sem esquecer que deve fazer a limpeza “condizente”, toda vez que for ao banheiro, defecar ou urinar.

Caso assim não procede, é exposta todo o descuido, no mau cheiro das axilas, e do corpo, sem dizer dos outros odores secundários(que não são poucos).

Falo isto, porque vivi a condição intermediária, aquela em que me revelou na impotência de cuidar do corpo, quando a urina e as fezes chegavam, o corpo pedia banho, e não podia sair da cama, enquanto outro não me pegasse e me higienizasse, que muitas vezes não era como entendia devido, de sentir o acúmulo da sujeira na boca, e não poder fazer nada. Sendo testemunha, por vezes, dos cuidadores e enfermeiros, disfarçarem a expressão de nojo e repugnância ao me limpar, porque em mim era notória a imundície.

O corpo animal foi revelado em mim, e toda a vergonha em expô-lo, o horror de ter ele, e não poder cuidar, de não poder limpá-lo sem ninguém ver.

Tornei-me pública na minha carnalidade. Expus-me naquilo que ninguém dá a revelar. Cuida no quieto.

Sim, tenho plena convicção de que devo aceitar a condição animal do corpo físico, e ao mesmo tempo, saber que sou Alma. Eterna. Imutável. Está aqui, mas não é daqui.

Isto consola, acarinha-me para a prática da paciência, do auto perdão, e da aceitação.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 14/10/2021
Código do texto: T7363606
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