AS MÃOS DE MEU PAI

Mãos, mãos fortes e firmes, as mãos de meu pai, forjadas na terra rústica do sertão mineiro; mãos, que uma vez abertas, nunca mais se fecharam.

As vezes pensava que elas seguravam o mundo, na minha utopia eram mãos infinitas, capazes das maiores proezas. Certa vez, quando ainda era miúda, lembro de vê-las se aventurarem pelos galhos de uma velha árvore em busca da manga perfeita. Como um primata, seus dedos agarravam aquele safo esqueleto de madeira como se cada galho fosse uma extensão de seu corpo, e quando menos se esperasse lá se via uma boa manga rosada por entre as mãos fortes de meu pai, fato que virou costume para ele e para nós que ao olhá-lo sempre tínhamos a impressão de ver uma criança travessa e feliz com seu feito.

Mãos que não criaram o mundo, mas de certo que criaram boa parte do meu mundo! Não eram mãos de médicos, mas curavam quando me sentia triste e me afagavam quando a noite era escura demais. Se algo ardia ou coçava era só esquentar o próprio dedo e colocar em cima da ferida e pronto, tudo voltava ao normal. Mãos que construíram um lar, uma família, uma história...

Mãos simples, rústicas, pesadas... mãos que vi descansarem e se fecharem pela primeira vez; mãos que deixaram saudades, as mãos de meu pai.

Quel Moura
Enviado por Quel Moura em 13/11/2020
Código do texto: T7110386
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