AMANHECENDO

Manhãs vão chamando outras manhãs

A manhã é geral

Aqui e ali, e além

Além da terra

Além do cerrado

E de passagem derrama

Cristal de claridão

Em minutos, quando o sol

Entrar pela janela

Irá inocular calor

Em meu corpo, que já desenha

No assoalho

Os primeiros contornos

Da minha fuga

Tomo o café na rua

Visto a fantasia de verme

Abro os cadeados do dia

Metais tinindo ao sol

Zoeira de buzina

Serei assim assado

Dentro do trânsito

É pouca a página

Para descrever

O campo de batalha

Ninguém ouve

O desovar de uma vida

A minha vã prosopopéia

Dá a idéia de ser

Inútil, sem esperança

A minha vã poesia

Dá um contorno de fotografia,

Brilhoso e distante.

Hoje não passarei no

Bar da esquina

Tenho medo de

Lá me deixar ficar

E reescrever esse poema

Que se fez por si só

Pedaço por pedaço

Triste de ser solitário

Num apogeu de sol.

Não tenho os olhos

E as mãos de hoje cedo.

T@CITO/XANADU

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 04/06/2020
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