Colóquio - parte l

- Era só isso?

- Era isso e um bocado de coisas. Uma pressa pela vida, um desespero brotado do vislumbrar de metades, de coisas mínimas, mornas, pulsações nem pra mais nem pra menos… Tudo milagrosamente engrenado na caixinha de música. Cansei!

- Eu te amava! Não… Te amo ainda!

- As caixas de música são enfadonhas, não acha? O som soa falso! Parece coisa arranjada pra consumir nosso tempo. Ando angariando tempos como a guardar tesouros. Dia desses, dormi sem findar um desenho de liberdade para a página do dia seguinte. Uma pena!

- Você anda estranha. Não fala coisa com coisa!

- Verdade! Há dias deixei de falar das coisas do mundo, das coisas da casa, das coisas suas, das coisas de nós… Antes da fala, é preciso a linguagem. Nunca me dei conta! Tentei falar tantas vezes sem saber as linguagens. Toquei meu corpo pela manhã. Era para mim. Não pra você, como sempre! Foi um monólogo, agora um diálogo: Você se dá conta de que não é o epicentro dos meus prazeres? Eu me dou conta? Agora sim! E para sempre…

- De onde brotam essas maluquices na sua cabeça? É uma forma cruel de atribuir a mim uma culpa que não carrego. Sou a parte ferida. Você me deixa! Eu findaria meus dias ao seu lado. Você ama outro? Você me traiu? Não consegue dizer…

- Necessitam culpas? Esqueci. Olho para você com ternuras e um pouco de saudade. E só! Ontem caminhei pela orla. Encontrei um bar novo e parei pra uma cerveja comigo. A escuta é linguagem essencial! E a gente nem percebe… Ouvi meu paladar antigo e pedi uma boa e velha Malzbier. Foi literalmente TUDO!