janela de ônibus

primeiro certifica-se de que nada há errado com a boca.

instrumento importante para emitir tragédias.

depois arregala-se os olhos na certeza de bem ver. sem arrodeios.

mas antes dos olhos um estofamento no peito, onde são testados os pulmões e a venta. então conforma-se a tragédia do cotidiano. a pressa da má notícia.

o vagão e suas lojas. as lojas vendendo gente. os ônibus com menos assentos, com mais espaços para estar de pé. o cobrador que às vezes sim bom dia. às vezes não. o não cobrador. o motorista sozinho passando troco. a viagem que é longa e uma menina beirando os quatorze inventando amores pra chegar em casa. a blusa vermelha, as tirar enroladas do seu sutiã, o jeans desbotando,

a cor desbotando dos olhos tristonhos.

eu só queria calar a fome. embebedar meu filho com meu alimento pra ele dormir.