A emancipação

"Quando há ferrugem no meu coração de lata,

é quando a fé ruge e o meu coração dilata" (O Teatro Mágico)

Para todo escritor que se prese

há o caminho pedregoso das palavras

há o gozo que também se percalça

e no calcanhar dos deuses literários

há quem diga que existir é sentir

escrever é um ato nobre e não mensurável

é música que pode mover e movimentar

é silába, sabedoria, gritaria e amor

é toda ressonância do desejo de ver se

e olhar o que existe com autonomia.

e neste exercício de escrever desejos

as vezes paramos de expressar

paramos de ser nós mesmos em uma briga

em que dentro e fora de nós se visitam

as métricas dos versos e a vontade

é assim que o encontro da própria alma acontece

nascendo cada vez mais de si no tempo

em que a força daquilo que julgamos é belo

e a felicidade daquilo que damos é árduo

na contradição bárbara do que não é nosso

e a conjugação singular também é plural

porque ao observar como as palavras vivem

as sílabas cantam os diversos rumos

as sinfonias prescrevem a deriva de ser

e assumir que o dom é para ser escrito