SONHO DE MENINO POBRE

João Pedro era menino muito pobre.

Não tinha nem chinelos para calçar.

Vivia o dia inteiro zanzando nas ruas,

Não ia à escola, sua vida era vadiar.

Brigava em tudo que era brincadeira

E só apanhava dos moleques maiores.

Descontava nos meninos mais fracos.

João Pedro esperava dias melhores.

Dizia: _Quando crescer vou ser alguém!

Afirmava sem pestanejar e sorridente.

Quando lhe perguntavam o queria ser,

Respondia: _Vou ser um presidente!

Na porta dos bancos pedia dinheiro.

Dizia que era pra comprar leite e pão,

Mas torrava tudo aquilo que ganhava:

Muitos doces, refrigerantes, diversão...

João morava num barraco da favela,

Mas constantemente dormia na rua.

Passava dias inteiros fora de casa;

Era normal, "estava sempre na sua!”

Dia a dia o moleque foi crescendo...

Vendo as manhas e truques da vida.

Sempre se metendo em encrenca...

Sabido, achava logo uma saída.

Tinha vontade de ir ao restaurante;

Falar: “Garçom, o cardápio por favor!”

Comer churrasco, pizzas, sobremesas...

Junto e à sós com seu grande amor.

Declarou-se à filha do açougueiro,

Na ilusão que tudo poderia dar certo.

Tentava se encontrar com a mocinha,

Mas o irmão dela não saía de perto.

Certa noite colocou a sua melhor roupa

E foi pedir para namorar com respeito,

Mas deu de cara com a guria na varanda

Se agarrando com o filho do prefeito.

João Pedro conseguiu um emprego:

Trabalho no armazém do "Sô Manoel".

Dava duro o dia inteiro no balcão

E no Natal foi seu próprio Papai Noel.

João Pedro comprou um lindo violão,

Pois o filho do prefeito tinha um igual;

E porque sempre o via tocar nas noites,

Junto das “gatinhas”, feito "o maioral".

Primeiramente aprendeu o dó e o ré...

E daí por diante: mi, fá, sol, lá, si...

J. P. (apelido novo) já tocava certinho,

Praticava seu canto antes de dormir.

Aprendeu as melhores canções.

Até que o garoto não cantava mal!

Criou coragem, levou o violão pra rua;

Foi bem recebido e se sentiu o tal.

Cantou em concursos de calouros.

Começou a fazer suas composições.

J.P. cantava e tocava o dia inteiro

E o povo gostava das suas canções.

Já rapaz, ganhava algum dinheiro

Tocando à noite nos bares da cidade.

Era sucesso, o cantor do momento

E o cara mais popular da sua idade.

O menino carente, mendigo, pé rapado...

Já era o conhecido "João do Violão".

A filha do açougueiro, que o desprezava,

Passou a chamá-lo de “minha paixão”.

O filho do prefeito se sentiu ameaçado.

Acometido de um ciúme muito forte,

Mandou João se afastar da garota...

Até ameaçou o "Joãozinho" de morte.

O encontro dos dois foi inevitável...

Aconteceu que "tamparam na porrada!"

Juntou uma multidão pra ver a briga;

Fez-se roda, agitando a garotada.

O filho do prefeito: _A gata é minha!

J. P. respondia: _Ela gosta é de mim!

Daí por diante, eles sempre brigavam...

Quase todas as noites eram assim.

De repente, em meio à outra confusão,

De novo por causa da filha do açougueiro,

Ela passou toda linda, bem produzida...

Agarrada à cintura de um motoqueiro.

Aí "Joãozinho do Violão", desiludido,

Logo decidiu que deveria se mudar.

Foi tentar a sorte na cidade grande,

Dizendo nunca mais querer voltar.

Foi trabalhar na função de garçom

Em um restaurante do Rio de Janeiro.

Deu duro de domingo a domingo...

Queria ganhar logo muito dinheiro.

Um dia o patrão lhe deu uma chance:

Ele tocou e cantou para a freguesia.

Como todo mundo gostou e aplaudiu!

O cantor acreditou na sua fantasia.

Foi então que surgiu um homem de terno,

Falando a J.P. que veio ouvi-lo cantar.

O artista fez teste numa gravadora...

Fez contrato pra suas canções gravar.

João Pedro deu pulos de felicidade.

Nunca imaginou ouvir um disco seu.

Escreveu pra família e pros amigos

Contando detalhes do que aconteceu.

Na pequena cidade do artista, rádios...

Todos os tinham às mãos para escutar.

A música do Joãozinho do Violão,

A qualquer hora, estava para tocar.

De repente, o locutor anunciou a todos:

“...agora vamos ouvir uma nova canção,

Chama-se Sonho de Menino Pobre,

Quem canta é o João do Violão!”

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Site do poeta: www.marcomansoro.wix.com/poesia