Caseira

Não há vínculo durante a apresentação de um monólogo sem fim, por ora o espectador se emociona e deseja abraçar o ator, mas quando atinge o limite, por melhor que seja o espetáculo, ele quer apenas ir para casa dormir.

Meu coração não é palco —eu prefiro o diálogo, é cozinha de bater-papo enquanto se lava os pratos, é de meter a colher porque fui chamado. Aqui a cena nunca é a mesma e põe-se na mesa o que se deseja, aqui é onde se fica à vontade para olhar para o nada com a xícara em mãos, onde a simplicidade é festejada em silêncio e o abraço é trocado.

Na realidade que permeia o dia, não há meia verdade que afaste a saúde de estar em companhia, nada se diz aos gritos e tudo que é vivido faz inveja a qualquer teoria. Pois os amantes da paz não provocam tsunamis além daqueles que se formam naturalmente, são eles os que oferecem as boias aos que lutam e estão sempre atentos aos navegantes que os acompanham.

O genuíno cuidado deixa livre seus afetos, para que cresçam na medida que precisam, sabe-se que palavras não mudam fatos e nem garantem bem-estar, elas são mais úteis quando comunicam uma compaixão atuante de verdade. Quando não se tem palavras que salvam, simplesmente poupa-se os ouvidos dos amigos daquelas que matam. Assim, na liberdade da sua escolha o ser amado trilha seu caminho, cobrado apenas pela consequência (que é a melhor professora) e segue a partir da vista do seu próprio ponto.

Cá me cabe garantir o lugar de repousar a quem quer que venha chegar, meu abrigo é presente pronto para fazer efeito, chá que sempre da jeito, mas só é capaz de agir quando se quer fluir onde realmente se está: aqui e já.