Uma pausa, uma prosa, uma Senhora...

Uma Senhora, certa vez, em segredo me revelou, que o mar era a porção de lágrimas de toda a gente do mundo que já chorou. E não era atoa que a água era salgada, ela falou. Ao passo que lava a alma, cicatriza as chagas de quem pranteou. Curiosa, indaguei-a sobre o assovio do vento. Ela balançou a cabeça, suspirou e disse: _Puxe um assento... Ah, minha filha, esse uivo é de tristeza, lamentou. _ Um grande amor proibido que a vida separou. Sempre que o escuto, lhe faço uma prece. Rogo pra que o seu coração encontre paz e sua alma aquiete. A Senhora levantou, como quem foi saindo. Eu disse: _Logo agora que passei um café, a Senhora vai indo?. Ela resmunga, cabisbaixa: _Hoje eu não posso me demorar. A Lua está fazendo birra detrás das nuvens, não quer desfilar. Disse que hoje vai ficar escondida, não vai aparecer. Que tem muita maldade no mundo e que não merecem lhe ver. A Senhora então diz à Lua: _Deixe de rebeldia e apareça logo, sem rancor...Se houver no mundo mil almas perdidas e uma só que vibre amor, não a prive do seu esplendor. Eis que a Lua repensa, afinal, a Senhora tem razão. Ela então desponta tímida, e já alegra um triste coração. Eu insisto com a Senhora: _Não vá se embora! Fica mais um pouco, só o tempo de uma meia prosa. _Já que a Senhora sabe de tudo, diga-me só mais uma coisa: explique-me a saudade, minha Cara, por que tanto dói?. Ela diz: _Ah, menina! a Saudade é tão incompreendida. Sempre lhe talham de má companhia. Lhe confundem com tristeza, mas só brota em coração de quem já muito lhe fizeram alegria. Se ponha comigo a pensar...só tem saudade quem muito se pôs a amar. E isso nunca, nunca há de ser ruim!. Ela levanta de vez, pega seu rumo e se perde ao horizonte. _Vá em paz, minha cara Senhora, que outro sujeito tenha a sorte de beber da sua sábia fonte.