Hoje, por volta das quatro da manhã, eu chorei.

Hoje, por volta das quatro da manhã, eu chorei.

E não chorei por qualquer coisa externa, por qualquer coisa além de mim ou por qualquer coisa que simplesmente não me convém. Eu chorei por ser eu. Você consegue imaginar isso? Eu também não conseguia. Eu chorei por ser eu. Mais que chorar, eu berrei, eu gritei eu lamentei ser eu, de uma maneira tão torpe, tão degradante e autodepreciativa que meus olhos doíam de tanto produzir lágrimas e minha mandíbula doía de tanto eu gritar, mas essa dor é ínfima, é nada perto da dor inenarrável de simplesmente não conseguir suportar a si mesmo. A ideia de ser eu mesmo, agora, me é INSUPORTÁVEL. E continuar existindo é um fardo que eu não sei por quanto tempo vou conseguir carregar, cada segundo passado, cada ínfimo momento vivido é, para mim, uma dor excruciante, é algo que me dói profundissimamente, de uma dor, uma angústia, que eu simplesmente não consigo descrever. Eu me odeio, de todas formas e com todas as minhas forças, eu me odeio completamente, totalmente, eu me odeio. Eu não gosto nem um pouco e de nenhuma forma de mim, eu evito espelhos, telas, reflexos, pois minha imagem, para mim, é uma tortura indizível, ver eu mesmo é o pior dos castigos. A minha face horrenda, a minha personalidade horrenda, o meu corpo horrendo... não existe nada — NADA! — Em mim que seja amável, aprazível, amigável. NADA! E eu não consigo me imaginar merecedor de qualquer coisa boa, de qualquer afago amigo. Eu não mereço ser feliz, eu não mereço ter amor, eu não mereço ter amigos, eu não mereço ter companhia, eu não mereço estar vivo, eu não mereço continuar vivo, eu não mereço absolutamente nada de bom. Eu mereço tudo aquilo o que já tenho, eu mereço esse desprezo, essa falta de amor, essa solidão gritante, eu mereço esse julgamento errado, esse desamor, esse ódio, eu mereço essa tristeza, essa angústia, eu mereço essa melancolia que não passa, essa chaga que nunca cicatriza. Tudo o que há de ruim, de péssimo é o que me convém, meu reinado está nessas lágrimas que agora derramo, minha riqueza é essa tristeza que descrevo, isso é tudo o que eu tenho e tudo o que eu mereço.

Escrito entre 29 de junho e 30 de junho de 2019.