VIVER

E ainda que o verbo eu conjugue, ainda que eu tente ilustrar. O viver é por demais complexo pra que alguém o tente explicar. E o que seria a vida senão essa antítese perfeita de tudo que pensamos acreditar. É o brado, é o silêncio, é o corpo, é a carne. É alma que cala mesmo querendo gritar. É aflição e é alento. É riso, gargalhada, mas também é choro, é lamúria, é luto, é pesar. É o vento que espalha e passada a tempestade quer ajuntar. Que o mundo é tão grande e a vida é imprevisto, cheia de ousadia, vez por outra rebuliço, é pedra...que a gente se esforça pra não tropeçar. Sacode a poeira, agiliza o andar. Que o caminho, quem sabe, se é curto ou se longo. Quem por destreza saberia adivinhar?. Que a vida é um o sopro, é suave, é calma e é selvagem. É um desatino, um suspiro, tão forte e tão frágil. Se apressa no passo, não perde o compasso, que o tempo é contado e já nasce regrado. É o remédio que é cura e também é veneno. Quem sabe qual é a dose, a medida certa ou letal. O que é o bem, o que é o mal?. A vida é muito mais do que a gente julga conhecer sobre ética e moral. Quem é que sabe, afinal?. Que a pena é leve, o fardo é pesado. E a pena, é leve? que a sentença seja breve. É semente tímida, que mesmo sem graça, depois do inverno, desabrocha em flor. É sonho pintado com giz colorido que de tanto ser sonhado desbotou a cor. É menino assombrado com medo de monstro. É o punho que bate, é palavra maldosa. É também a mãe que acalenta, é o colo e o beijo, dizendo já passou. A vida é carrasco, é agredido, é agressor. É uma porção do inferno, mas também é divino, é amor. É o sono pesado de quem ainda dorme e é a pulsação vibrante de quem já acordou. É o sim é o não, é começo, criação. É a morte, é o final, é o antes, o depois, é o agora implorando atenção. É tranquila algazarra, que às vezes pirraça e que só por vaidade nega a colheita de quem já plantou. A vida é o doce da nuvem de algodão e é o amargo no fel da desilusão. É céu cheio de estrela, lua cheia, mas também é escuridão. É bondade, é alegria, é esperança, mas também é maldade, é tristeza, é dor. E nessa guerra de dicotomias, soldados, eu diria que estou mais para um desertor! E agora uma pausa, uma vírgula, reticências... um café (por ora a rima acabou), que a vida só não é ponto final pra quem sabe ter fé.

Caroline Campos
Enviado por Caroline Campos em 24/04/2019
Reeditado em 24/04/2019
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