Tribo II

A poesia tem certas injustiças

Não dá o crédito à inspiração

Cada letra tem um detalhe dela

Cada prosa, vírgula e espaçamento vazio

Tem uma ausência ou uma presença

Do sorriso, do cheiro, dos olhos

Daquela que fez os versos nascerem

E morrerem

Ela tem um nome que não dizemos

Pela simples resistência de não se ajoelhar

Diante dos cabelos lisos e olhar furtivo

Que de tão belo, amedontra

De tão puro, impurifica

De tão silencioso, me ensurdece

Se por mágica ela pudesse simplesmente se tornar texto

Seria poético, profundamente humana e uma língua distinta

Seria uma completa torre de babel de versos musicalizados

Mas como injusta é a poesia

Faz poetas reféns de sua própria poesia

Que nesse caso é o próprio poema

Escravo de sua criatura