Conheci o medo...
Quando foi que ele se apresentou a mim?
Quando o chão era frio,
Ao toque dos pés pelos vãos das solas de sapato, já tão gastas?
O medo é gelado...
Mas não foi aí...
Quando criança, não olhamos furos de sapato ou meias,
Olhamos o mundo através de tudo, até dos furos,
Com muita magia!
Quando acordei e me vi adulta,
Temi expor ao mundo minha capacidade,
Adquirida em pedaços,
Que fui cosendo, igual colcha de retalho?
Também nesse momento não conheci o rosto velado do medo,
Conheci a ação das lições de casa,
E fiquei satisfeita com o resultado.
Não! O medo ainda não era meu conhecido.
Ele não se apresenta por mim,
É tinhoso!
O medo me pegou desprevenida,
Em algum momento em que o sol se tornou pálido demais!
E as nuvens densas adentraram meu coração,
Perdi o sol, que me fez ser quem sou.
Por muito tempo, a penumbra ficou ali, presente...
Ofuscando a luz,
Aos poucos,
Um raio de luz aqui outro ali, começou a adentrar o coração.
Comecei a ver outros focos de claridade,
A reconhecer fontes, sempre presentes, de forma mais tímida...
Mas com o mesmo brilho por mim.
E explorei essa fonte,
Ganhei outros saberes, outros ensinamentos sábios.
Chegaram outras fontes de luz que alimentam meus aprendizados,
Que enchem minha vida de alegria,
E com elas, o medo velado aos meus dias.
Tornei-me aquela que ora...
Nunca um dormir sem rezar,
Nunca um acordar sem orar,
O medo faz parte de mim...
Me abocanhou, com sua boca enorme,
De novo!
Novamente, fui pega de surpresa,
Todos os dias ele me visitava, me alimentando,
Deixando um coração aflito...
Até que levou minha musa.
E com ela minhas inspirações...
Mas não se satisfez...
Não me deu descanso...
Não me permitiu acender um fio de luz no meu peito,
Fez a noite mais escura,
Levou quem se fazia presente,
Plantou a semente da solidão aos meus dias.
Ronda-me ainda, fazendo de mim, lugar ideal.
Instalou-se, fez morada,
Tornei-me aquela que não mais quer viver o futuro...
Apenas hoje...
Um dia de cada vez...
A vida ensina suas lições de forma dura!
Sou mãe que ora,
E queria ter asas...
Quero muito, quero tudo,
Quero abafar os meus medos,
Me transformar em luz,
Dissipar as nuvens que, porventura,
Pairar sobre os que amo,
As nuvens são a morada do medo,
E eu não o conheci,
Enquanto, outros fizeram luz para mim.
O medo me tolheu,
E também, o medo me fez renascer...
Quando foi que o medo me mostrou a cara da coragem?
Quando o vi rondando minhas crias,
Sou mãe, sou fera...
Crio asas,
Faço tempestade,
Luto com as trevas,
Acendo a luz do sol em noites escuras,
Nem sei, se de fato, conheço a coragem,
Mas vi seu rosto...
Nos olhos tristes do amado,
Me apresentei a ela,
No momento exato,
Em que me tornei luz,
E farol para a vida!
 
Irani Martins
 
Irani Martins
Enviado por Irani Martins em 23/03/2019
Código do texto: T6605226
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