Caminho
Sinto que a terra ainda é a mesma. Mas os sapatos são outros. E então, o caminhar é distinto: menos leve, abrupto, mais rápido. Malgrado a austeridade desses passos firmes, talvez não se saiba ao certo o fim onde chegar.
Antes perdido estivesse no caminho, mas não há caminho. Antes entretido com as colinas, com as auroras e estrelas constantes, com as veredas sempre presentes. Há estrelas? Há auroras, mesmo após o amargor de uma noite qualquer?
Decerto há a estrada acompanhada pelo Tempo, o tempo das vidas ingratas, das vidas enregeladas pelo abrir de uma janela, pela possível descoberta do nada.
Na fenda de um abismo cruel, a estrada desenha-se risonha, convidativa e implacável. Os passos, dançantes ou graves, firmes ou ignóbeis, comportar-se-ão como crianças. Assim serão invariavelmente, calçados por novos ou velhos sapatos. Sempre conhecendo nada. Sempre afoitos de tudo.
E seguirão os passos, indistintos, vez ou outra tropeçando nas escarpas profundas de uma vida que não ensina, açoita.