ERA DOS BOTÕES

Vento rasteiro, terra rosada, pastagens secas...

O urutau dormindo no topo do tronco seco do jacarandá.

Nuvens leves passando disfarçadas pelo céu em direção ao Oeste.

Numa altura mais avantajada em direção ao céu, nuvens em forma de pedregulho iam lentamente em direção ao Leste.

O pai do menino dizia: - Céu pedrento, chuva ou vento.

O infante nem imaginava que o que estava acontecendo era apenas correntes diferenciadas de ar. Pois sua preocupação era ver os urubus voarem sem exercitarem as asas. Apenas iam planando de um lado para o outro na corrente térmica.

Deitado sobre a sombra da araucária que ficava no fundo da barranca, ao lado da mangueira de porcos, o garoto com seu chapeuzinho de corda indiana, cor de cinza, passava suas longas horas observando junto a tudo isso, o João de Barro a construir sua casa, com sua porta em sentido contrário ao lado que a chuva vinha.

O guri de calças curtas, com os pés no chão, camiseta ganhada no tempo de eleição, vivia seus dias de infância às beiras dos riachos e restingas à custa de suas curiosidades.

Sabugos de milho viravam bois, barbantes de sacos de mercadorias viravam cercas e currais, estrepes de vassouras de alecrim viravam mourões de cerca e porteiras.

Ressaltos do terreiro viravam montanhas e morros.

A imaginação trabalha sem descanso, a vida ia passando e o início da alfabetização estava para chegar.

A alfabetização chegou, o menino saiu muito bem, cresceu em graça e sabedoria.

Venceu na vida, como diz em sua terra natal.

A araucária já não existe mais, pocilga deu lugar às pastagens.

A barranca desbarrancou e foi parar no riacho que até mudou seu curso.

Os barbantes e sabugos deixaram de fazer parte das imaginações infantis até no sertão.

Na era dos botões, até as fantasias tornaram-se “botõesadas”.

Aquele menino venceu e os de hoje também vão vencer se tiverem oportunidades.

A vida mudou e aquela infância que aquele menino viveu, ficou na lembrança.

A evolução também deixa saudades!

É isso aí!

Acácio Nunes