Sobre o amor, a carência e a arte de ser trouxa

Eu fui chuva sobre alguns corpos, mas quem reconheceu a humildade que me compunha? Não havia eu no tempo, nem nós atados. Inúmeras vezes estive preso em um segundo e dentro desse segundo, passaram-se 150 anos. Viver 150 anos em um segundo é para quem desaprendeu a amar.

O amor bate a nossa porta, permitimo-no que entre, mas ele faz uma bagunça que em nós não cabe. Não era amor. Talvez a vontade de ter alguém a quem amar seja tão maior que amar a si mesmo a ponto de viver amor sem de fato amar. Eu que estive aqui por 200 anos, perco a essência do que ainda restava de mim. A sombra diluída na escuridão que me assombra, eu num abismo de amar que só a mim pertence. Não foi amor.

Ser uma pessoa carente nem sempre é fácil assumir, expor que se tem a necessidade de ter alguém ao lado, alguém que estava por perto e que nos faca perceber que vem anos se passou em alguns minutos, é ver claramente o tempo voar e ficarmos parados, sem solução, sem ação. Quantos amores amei até entender que eu não sei amar, nunca soube.

Conhecer pessoas, doar-se, entregar-se... Viver cada minuto do cais que é trazido com o "desprezível" ser. Ai você se apaixona, no primeiro encontro não se permite, mas depois de sentir o calor do beijo, tudo se perder de nós, o que estava ao alcance de nossas mãos, já não mais nos pertence.

Entender que a carência é o mal do século, em meio a tantos males, ser carente é uma ação que não afeta só a nós, mas aos que têm e não sabem como tratar.

A carência que há em mim afasta pessoas que, talvez, fossem a minha pessoa. Quando há o envolvidos, tudo parece se desfazer e começa a desandar. Mas isso ocorre por uma razão: sou intenso, mas admito a promiscuidade do pessoal me fez perceber que não sou dessa era. Pertenço a outra geração.

Adeus!

Gilson Azevedo
Enviado por Gilson Azevedo em 05/09/2018
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