Gato Coió e a moça de Cametá.
GATO COIÓ E A MOÇA DE CAMETÁ
Vou contar-lhes uma história,
Que aconteceu no Pará.
Na verdade uma vitória,
Da moça de Cametá.
Recorda-me a criação,
De um boneco de madeira,
Que por ter bom coração,
Falou pela vida inteira.
Mas a moça é desenhista,
Trabalha com criação,
Tem espírito ativista,
Inspira-se na emoção.
Ao criar Gato Coió,
Nem podia imaginar,
Em dançar o carimbó,
Por tanto que ia aprontar.
Mas ali estava o gato,
Bonito e todo faceiro,
Ainda no anonimato,
Já era muito matreiro.
Foi crescendo dia a dia,
Ficando forte e bonito,
Com a moça fez moradia,
Esse gatinho esquisito.
Certa vez foi ao quintal,
Curioso como só,
Acabou por passar mal,
Ao comer oiticoró.
Não parava de aprontar,
Esse gato noitibó
E a moça só fez errar,
Ao chamá-lo de Coió.
Com certeza no futuro,
Cametá vai se orgulhar,
Pois Gato Coió e a moça,
A ela irá projetar.
Um dia fez tanta arte,
Esse tal gato Coió,
Que a moça fez janta a parte,
Pra ele deu só xiró.
Revoltado com o castigo,
Que sua dona lhe impôs,
Tornou-se logo inimigo
E pela estrada se pôs.
Tanto correu, tanto andou,
Foi parar numa floresta,
Quando mais não agüentou,
Deitou pra fazer a cesta.
De manhã, esfomeado,
E descuidado, o brocoió,
Terminou aprisionado,
Num bem montado quixó.
Olhos, maior que a barriga,
Nem assim Gato Coió,
Percebeu estar nas terras,
Da tribo maratxó.
São índios que se alimentam,
Com preás e com mocós,
Mas logo se perguntaram:
E sopa de Gato Coió?
Nem preciso lhes dizer,
Que o gatinho só tremia,
Pois com medo de morrer,
O bichinho só gemia.
Lenha acesa, tacho em cima,
Água quente, umas folhinhas,
A morte que se aproxima,
Coió, dá umas cagadinhas.
Começa então a rezar,
Pedindo muitos perdões,
Pois com Deus vai se encontrar,
E acertar os seus senões.
Com o fim que ele espera,
A morte que perto está,
Faz juras, de amor, sinceras,
À moça de Cametá.
Um índio então se aproxima,
Pega o gato do quixó,
Esfrega em todo seu corpo,
Um ramo de curimbó.
Mas com a fada rainha,
Surge uma forte esperança,
Coió fica embasbacado,
E chora como criança.
Ali, diante dos olhos,
Tão perto do coração,
A moça de Cametá,
Estende-lhe a sua mão.
Explica aos maratxó,
Que aquele bicho é ruim,
Quem comer Gato Coió,
Diarréia não tem fim.
Gato Coió cabisbaixo,
Totalmente envergonhado,
Tendo no rabo um faixo,
Segue a moça lado a lado.
A moça ao chegar, cansada,
Deu-lhe tanta chinelada,
Que Coió nem conseguiu,
Dormir na sua almofada.
Quando o dia amanheceu,
E o sol pôs-se a brilhar,
A moça se arrependeu,
E foi Coió, procurar.
Afinal ele é um astro,
Luz, amor e alegria,
Fica difícil entende-lo,
Porque não fala, só mia.
Quando chega de mansinho,
Atentes ao que está vendo,
É a expressão do carinho,
Seu rabo que vem mexendo.
Enfim quando se encontraram,
Brilhavam muito, seus olhos,
Pranto alegre derramavam,
Depois de tantos imbróglios.
Se o amor que há entre os dois,
É puro, forte e inocente,
Porque não pode existir,
Quando está só entre gente?