Sonho recorrente
Olho em volta e percebo,
O transitório que me cerca, o incerto, o engano,
Os tempos estéreis em que nos movemos,
Tempos duma extensa intensidade apática,
Olho quem me rodeia e o que vejo?
Vejo sombras, sombras que se movem e que falam,
Pois onde antes eram constantes os indivíduos e as suas palavras,
Agora, as palavras são apenas sons, que não produzem sentidos,
Porque as palavras estão agora desprovidas de palavra,
A mentira passou a ser sinonimo de verdade tal como a coerência e a incoerência.
E vejo mais,
Enxergo seres que ainda se querem manter incólumes, intactos na credibilidade de que são feitos,
E lá vão prosseguindo incansavelmente, por entre todo o tipo de obstáculos, procurando seus pares e esgrimindo com as sombras,
E nessa busca vão-se deparando com a aridez e a vulgaridade da indolência, mas continuam em silêncio, percebendo muito bem o que os cerca…
E já em terreno seguro junto de quem procuravam, seu silêncio transforma-se num grito ensurdecedor que em uníssono ecoa na calada da noite:
_Basta de tanta impostura, basta de tanta ignominia, não insultem a inteligência alheia!
E meu sonho termina quando pela alvorada, esse grito se cala instalando-se o silêncio como resposta perante o nada que caracteriza as sombras.