Incessante batalha

A “madrugada” avança, silenciosa e gélida.

No horizonte, as fileiras do “dia” se formam iluminadas, prontas para atacar.

O céu sangra.

A “noite” bate em retirada.

Uma sinfonia de sabiás anuncia que o “dia” atacará com sua arma mais poderosa.

Catapulta do tempo municiada, disparo feito. Gigantesca bola de fogo lançada no ar.

O céu se ilumina.

O frio se dissipa.

A “noite” se refugia, fica entrincheira no hemisfério oposto.

O “dia” reina febril a medida em que a enorme esfera incandescente cruza o céu anil.

As horas seguem, um crepúsculo abóbora se forma na linha que costura céu e mar.

É hora da “noite” mostrar o seu poder bélico.

Trajando majestosa túnica negra ela sombreia um dos pontos cardeais.

A medida em que avança, dizima impiedosamente toda e qualquer luminosidade deixada pelo "dia" que recua.

A artilharia pesada que a serve inicia massivo bombardeio com miraculosos morteiros que lançam seus projeteis para além da estratosfera e deixa o céu salpicado, apinhado de pontinhos brilhosos.

A catapulta do tempo se prepara para lança sobre o céu noturno a mítica pérola que influencia marés, que hospeda poderoso santo guerreiro, que transforma homens em feras e que seduz poetas.

A rainha “noite” tem impressas em sua gigantesca túnica negra, lua obesa e estrelas sem fim.

A “madrugada” segue, avista ao longínquo a “alvorada”, fiel e atenta sentinela do “dia”.

Pássaros iniciam gradativa e confusa cantoria.

Por detrás das distantes cordilheiras, o “dia” ergue lentamente uma de suas pálpebras...