Sonho de uma noite insone
Numa dessas noites, quando a vida já não é tão prazerosa, um sonho recorrente é o que me consola. Um sonho suicida, genocida, altruísta, uma verdadeira obra de arte. Sob um grande holofote, ela dançava sozinha, enquanto seu par, na sombra, a orbitava, e acompanhava cada passo com perfeição. Nua, vestida de um azul profundo e um branco macio, com seus cabelos frondosos e seus olhos flamejantes, numa valsa infinita, efêmera, ao som do vazio. Seus movimentos espiralantes, como se tecessem o próprio tempo, continuariam até que o espetáculo fosse interrompido pelo apagar da luz. A platéia estava vazia, como sempre esteve. O ritmo do silêncio guiava a dança como jamais se veria outra vez. Os cabelos verdejantes ressaltavam um sorriso discreto, como se a vida retomasse suas forças com o prevalecimento da morte. E então, como se o sonho precedesse e sucedesse o sonhador, eu desapareço e o show continua.