O rio

Já desço rápido

Entre as pedras,

Era um fio d'água

Mas agora ligeiro

Encho as entranhas,

Molho os gravetos

E as folhas mortas

Com mil insetos.

Mas é tão longe

O meu final

Mas que depressa

Nos trancos

Tô chegando,

decidido

Afinal ainda consigo

Levar comigo

Lembranças

pedaços de tocos,

Saibros e troncos

Galhos quebrados

Que me pesam tanto

Braços e riachos

Que na frente encontro.

Sou agora

um mar de água

Turbulento e bravio,

Tenho forças

Sou sedento

Pra navegar com navios.

Mas primeiro,

No caminho,

Vou encontrando

Pedregulhos;

Estou mais lento

E mais pesado,

Mais largo e turvo

E sombrio

Se encontro

Obstáculos,

Imprudente

Mais forte fico.

Meus amigos

Tão distantes

Ficam murchos

Estou sozinho,

Talvez pacas

E largartos

As margens dos

Ribeirinhos

Me acompanham

Desolados

Com cantos de passarinhos.

Faço curvas

Contorno sítios

Vejo homens no caminho,

Abro grotas

E sacrifícios,

Minhas margens

Vêem ao longe

Estou chegando

No destino.

Peço licença

Educado

Entre os esgotos

Insisto

Posso passar?

Quero chegar

Respirar

O paraiso

Sonhar que sou

Rei e vivo,

Mas quase morro

afogado

Num mar de lama

E lixo.

Já estou velho

E cansado

Finalmente vou alcançar

Despejo as mágoas

Na foz

Espero me misturar.

Um encontro salgado

E sinto

minha alma ressuscitar

Nessa imensa mancha

Verde

Tudo que trouxe comigo

Vim aqui lhe entregar

Como um presente

Amigo.

Desculpe o jeito

É um defeito

Quando nasci

Me disseram,

Pra crescer e viajar

No fim da sua jornada

Dê sua vida ao mar.

David T Garcia
Enviado por David T Garcia em 08/04/2018
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