O ato sincero.
Mas andar, eu ando. Titubeio, meu equilíbrio é parco, mas continuo. E não sei até quando, ou onde. Aliás, não saber passou a ser a forma de conhecimento que permeia os tempos presentes e nem tão presentes da minha vida, ou isso ao qual não consigo nomear. Porque vida é o ato de se impelir através de um sentido maior, um caminho que provavelmente não chegará ao seu fim, mas a satisfação permanece. Rezo para que a taxa de mortalidade aumente e que as condições de vida piorem, pois, já que sou covarde, que a história me tire a vida por ela mesma. Ou isso a que não consigo nomear. Por quem, se palavras existem, e elas me parecem, onde, no caminho perigoso disso, eu ei de encontrá-las para poder nomear tudo aquilo que em mim cresce e por covardia não se transfere?
Eu olho para o meu futuro: a esperança da formação? de um emprego? de alguém? pra que! se por fim, a solidão sou eu mesmo? Nem mais homem ou qualquer coisa que se pudesse definir. Há amigos que me olham estranhos e há aqueles que procuram nem me olhar. Há a família, e ainda talvez, o pano para se cobrir e limpar: os ratos me fazem companhia e me subjugam, afinal podem.
Meus dias, ou horas que conto, passam dessa forma: da existência do instante eterno. Minha atenção é rara e o que me comove faz aos outros rirem de chorar. E não que aconteça de ser vítima de alguma história: para que isso aconteça, é necessária a interferência. E ninguém se importa.
Porém, se há algo para agradecer a alguém, se esse alguém deve existir, é agradecer pela covardia. Aliada a ela, a imaginação de que, por algum instante, esse pedaço de matéria possa cruzar a calçada de alguém e se fazer notado, mesmo que seja apenas para trocar de sentido. Afinal, se nem ele existe, de que maneira podemos não inventá-lo para que algo na hora faça sentido, sem que nem mesmo essa palavra exista? Se nem eu existo. Mas andar, eu ando.