DESLOCADO

Não tenho verdades ou certezas a dar.

Muitos pintam certezas e gritam verdades.

E eu? Eu não grito nada, nada que se possa ouvir.

Hoje minha voz não ecoa.

Certezas?

Clareza e discernimento?

Quando eu pude na vida ter algum discernimento?

Nunca entendi coisa alguma.

Nunca fui coisa alguma.

Nunca conseguir analisar nenhuma das minhas ações, nem antes nem depois, sempre encontrei-me

seguindo o fluxo sem perceber sentido algum.

Como pode alguém conseguir entende qualquer coisa por aqui?

Os acontecimentos da vida veem em ondas, com intensidades e alturas diferentes.

Nessas ondas eu nunca consegui surfar suave, nunca fiquei em pé. Sempre fui aquele que leva o

caldo e fica de pernas pro ar, afogando, com água entrando pelo nariz e boca, fazendo doer a cabeça

e lacrimejar os olhos.

Quando mais jovem, meu desespero para achar verdade no mundo era tanto que tornei-me

engenheiro. Usei o cálculo, cheio de exatidão e igualdades, para encontrar um pouco de calma.

Só esqueci-me que também tenho alma e essa rima é apenas uma ilusão.

Acabei erguendo-me sem exatidão de prumo, por isso ando tão torto, pendido para o lado.

Percebi que não tenho canto esquadrejado.

Percebi que nunca usei seno, cosseno ou tangente para encontrar minhas inclinações.

Achei-as por acaso, flutuando ao sabor do sol e da chuva,

Achei-as lá fora, dançando e brincando em todas as direções.

Muitos pintam certezas e gritam verdades.

E eu? Eu não grito nada.

Eu não tenho verdades ou certezas a dar.

Fabiano Stopassolli
Enviado por Fabiano Stopassolli em 07/09/2017
Código do texto: T6107253
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