COMO A EFÊMERA NÉVOA DO AMANHECER


COMO A EFÊMERA NÉVOA DO AMANHECER

O mistério da vida é talvez maior que o da morte,
eis que a vida existe mas por si mesma não subsiste.
A nefasta morte que também existe - persiste e não desiste -
antiga como a própria sombra da noite, ela resiste.
Vai-se a vida para a morte existir.
Hoje, tantos anos depois, onde a noite dos tempos me separa
do Anjo que me fez sonhar e ser o que sou,
não tenho glórias para mim, mas para meus filhos e netos.
Rememoro em verdade a importância de sopesar a existência.
Passamos uma longa vida na ilusão de reter a sabedoria
sendo que ela nos é volátil como a efêmera névoa
do brilhante amanhecer.


“E tudo que era efêmero se desfez. E ficaste só tu que é eterno”
[Cecília Meireles]



Efêmero, do grego “ephémeros” significa “apenas por um dia”. De forma geral o termo efêmero é associado a tudo que é passageiro, transitório, fugaz, de curta duração.

Tentar reter o tempo, parar a vida, eternizar-se jovem, é sofrer anunciadamente, é a busca pelo efêmero... 
A luz, as nuvens, a névoa, a chuva,
embora sejam apenas um instante mágico dentro da eternidade,
por elas podemos dialogar com o eterno. 
Para a contemplação e deleite de nossos olhos
postam-se diante de nós as rochas,
as montanhas, os vales,
passam a terra, o ar, as águas e o fogo, mas o Eterno subsiste.



Toda a grandiosa beleza da Criação beleza das montanhas,
vales, mares, céus em cores, nuvens navegando
na plenitude do azul do firmamento.
Precisaríamos de milhares de vidas longas para apreciar um mínimo das maravilhas, somente de nosso planeta.

As cordileiras, os fiordes, as rochas, os abismos oceânicos estão sempre lá, mas como toda obra prima de arte sofrendo a intervenção do Artista. Elas - todas as obras - são o palco, não o enredo da peça. Simplesmente admirá-las, entende-las para senti-las  criamos o enredo, damos movimento à nossa história que nos valem a vida.

Nossos sentimentos - sensações - vão para o eterno na rápida viagem de toda esse milagre passageiro. O que constrói as grandes paisagens vividas é a luz refletida, as nuvens, a névoa, as expressões e gestos de pessoas que povoam nossa existência, ou até mesmo o conhecimento, o olhar e estado de espírito de cada um de nós caminhantes. O subjetivo, o efêmero...é a essência, do corpo que nos envolve na aquiescência de nossa alma.

*
Somos maus aprendizes da arte de conhecer o mundo;
lembremo-nos quantas vezes nós dizemos
de pronto que ele nos engana...!

Um esquilo, por exemplo,
está na hierarquia do tempo de existência como fossem instantes,
e estoca o necessário para sua vida e seus filhotes.
Não há desperdício de tempo,
pois não há consciência do tempo para lhe fazer falta.

Nós outros, no entanto, desperdiçamos o tempo afetivo
jogando-o como lastros ao mar;
antes, muito antes,
de o navio porventura vir a naufragar!

Se vivêssemos a vida
- da forma dos esquilos e das borboletas -
constataríamos que o tempo não existindo,
o iríamos ter para uso, com sobra.
No entando nós humanos com a noção do tempo,
não temos tempo para nada...

[M.Martins Santos]
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 22/08/2017
Código do texto: T6092103
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.