Morre uma estrela

Aquela estrela que vi brilhando tão única, tão rara, que nem sabia dela por não olhar para o céu, estava lá apesar do meu desconhecimento.

A estrela que me encantou tanto até eu saber encontrá-la, se foi ou está sobre uma nuvem tão impenetrável, tão densa!

Lembrá-la é alegria, desespero, doçura, loucura, ternura e é também ausência que dói dilacerando-me em atrocidades.

Sei que não a encontrarei em nenhum outro céu, em nenhuma outra galáxia e em nenhum infinito que não posso dimensionar.

Então uma lágrima fatal cai sobre o papel, uma lágrima fecundada na minha alma que se espalha e se multiplica.

Aquela estrela sumiu na noite escura que me faz ferida. Sentir-me tão só e desgarrada de mim é agonia absoluta.

Queria ter palavras para descrever para mim o suficiente o que é estar desapegada de mim, da minha pele e do que sou.

Eu, possuidora de cavalos alados e de uma nave enferrujada, não ouso procurá-la, porque sei que não a encontrarei mais.

Nunca mais encontrarei aquela estrela, porque eu a matei, a feri mortalmente num abraço sufocante sem perceber.

Nada justifica o crime que cometi; matei aquela estrela e tê-la estrangulada é minha maior e mais dolorosa pena.

Assassinei a estrela e nada vai me salvar da sua ausência, pois não há vida que eu possa gerar novamente e nem morte que eu possa ressuscitar, nenhuma.

Aquela estrela iluminou-me tanto que conheceu minha nudez, foi brilhando mais a cada momento até fazer-me crer segura.

Ela também me matou numa explosão e depois em outra e em muitas outras, sucessiva e eficazmente me explodindo, matou-me.

O meu domingo acabou, nunca mais existirá um domingo para mim. Domingos jamais voltarão e serão vividos por mim e é triste.

Um dia, se eu olhar para o céu, talvez encontre outras estrelas, estrelas mais brilhantes diante de outras.

Consciente que sou perigosa para estrelas e elas para mim, não ficarei exposta aos seus brilhos, porque perdi a inocência necessária.

Não acredito mais em dóceis, gentis e elegantes fogos-fátuos, então, diante delas serei apenas pedra sem nenhuma preciosidade.

Existirá um dia que será realmente interminável; todos têm um dia ininterrupto diante da eternidade, todos mesmo!

Viverei um dia de cada vez, um dia real que não importa o nome, não importa a semana, o mês, o ano, mas que seja real e palpável.

Jamais me esquecerei da estrela que me desnudou totalmente. Não negarei que através daquela estrela fui do céu ao abismo.

Fui do abismo ao céu doloroso e assumi meus medos e minhas delícias, entendendo que meus receios são comuns e minhas delícias raras, únicas...

Rose Stteffen
Enviado por Rose Stteffen em 03/07/2017
Reeditado em 03/07/2017
Código do texto: T6044108
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