Trivialidades do cotidiano

Ouço ao longe pancadas do que parece ser sons de madeira estalando - Tap tap tap -,

vai ecoando até meus ouvidos como ondas que me chegam espumadas de latidos distantes e próximos, gritos quase inaudíveis de crianças que não vejo passar nas ruas, passarinhos cantando e um som rígido de ferro raspando o telhado, que vem da antena solta que balança de um lado para o outro em cima de casa. Um vento forte sopra no portão la fora - que está quebrado - fazendo um barulho constante de três batidas de ferro solto, criando ainda mais contraste entre o silêncio em mim. A cada estalido fica evidente: tudo nasce do silêncio. Como se eu ouvisse cada ruído que nasce da quietude deste dia...

Por trás disso tudo, sinto que todos esses sons musicais da vida são como ruidos dentro de um útero. Como se estivéssemos ainda para nascermos, na fila de espera da vida...

Que dia silenciosamente eterno!

Todas as coisas perceptíveis estão envoltas de um silêncio prazeroso, de uma calmaria de fim de tarde que desce sobre mim fazendo sono nas emoções, fechando as pálpebras dos pensamentos.

É por isso que ouço nitidamente a voz do vizinho murmureando com sua esposa neste momento.

Ah, o cotidiano de todos os dias! Os transeúntes que passam! O senhor da padaria que sempre faz questão de me acenar quando me vê!

Como tudo isso me alegra!

A calmaria de tudo ser como é!

E tudo estar certo...

Assim vou passando o dia comigo em sons que nascem com a sensação morna e silenciosa de que escrevo dentro do útero da Vida...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 22/06/2017
Código do texto: T6034594
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