Tua voz, minha voz

A voz se apoderou da minha alma. De mansinho, mas não foi de leve. Foi forte. Chegou aos meus tímpanos e penetrou fundo, tocando lugares ainda desconhecidos. Impôs presença assim como o afeto cobra espaço do ser amado. Bagunçou todas as minhas certezas. Derrubou todas as muralhas. Quebrou a casca da resistência do não-sentimento.

A voz gerou mal-estar. Desconstruiu ideias. Desfez estereótipos. E chamou minha atenção para o silêncio absoluto que imperava em meu peito. Um silêncio cômodo. Tranquilo, mas assustador.

A voz fez cócegas na minha imaginação, propôs colorido à minha vida. Criou uma expectativa de sintonia perfeita. E passou a tocar melodias que acariciam meus ouvidos. De repente, passei a não querer mais o vazio do silêncio, a mudez dos sentidos. E sinfonias se executavam ininterruptamente, uma após a outra, numa incansável dança das emoções.

A voz chocou por um tempo, incomodou outro tanto e acalmou depois disso. Acalmou o vulcão que incomodava pela necessidade de sair. Canalizou a força da tormenta interior e transformou o ruim em desejável.

A voz emparelhou-se à minha. Casou o grave e o agudo. E criamos um novo tom. A partir desse momento, nada mais fez sentido. E nunca pareceu tão certo, tão no seu lugar.

Tão vibrante, tão único.

Tua voz. Minha voz.

Dueto.