A casca

A casca cobre uma cicatriz.

Ali, um dia, uma ferida profunda lacrou o acesso aos sentimentos. A casca protege. Encobre o que é feio. A dor. Evita novos dissabores. Porque mesmo que a vida flua nas veias, não sentir é a única forma de se prevenir contra os horrores do amor.

A casca. Intransponível. Dura feito quem a comporta. De tão maciça, tornou-se frágil. De repente, alguém a quebra. De leve, no início. Provoca uma infiltração. E fragmentos desconhecidos de novos sentimentos começam a penetrar a rachadura.

A casca e toda sua armadura se partem. Quer ser quebrada. Quer ser retirada. A casca se esfacela. E no seu lugar, onde havia a cicatriz, se encontra uma tatuagem. Nova. Ainda dolorida. Mas que deixa transparecer dúvidas, confusão e vida.

Paixão.