Observando os tatuís

Estava na praia, ao iniciar de um dia, cheiro de maresia e som constante das ondas.

As gaivotas apareciam e sumiam entre as neblinas. Acordei cedo para conversar comigo mesmo. Poderia ser deitado, logo após despertar, mas o cenário ainda escuro, das janelas fechadas, corpo cansado de tanto dormir, não me motivava o bastante.

Resolvi então ir caminhando até a praia. Um deserto às 5h40. Minha pele arrepiada deveria de sido coberta por uma camisa de manga comprida, mas decidi trajes de verão em período de baixa temporada, em meados de maio.

Quando cheguei e avistei o horizonte infinito do Oceano Atlântico vi uma embarcação, que pela distância parecia um daqueles cruzeiros que vão de cidade em cidade oferecendo entretenimento aos passageiros. Imaginei quantas pessoas poderiam estar embarcadas, em suas motivações em alto-mar.

Coloquei os fones nos ouvidos e escolhi uma música instrumental para ouvir. Eu não queria que nenhuma palavra, mesmo cantada em português ou inglês, influenciasse meus pensamentos.

Eu estava ali para conversar comigo mesmo. Uma conversa séria. Acerca de decisões importantes.

Sentei na areia, com as pernas dobradas, minhas mãos entrelaçadas nelas, respirando aquele cheiro de praia.

Mais adiante alguns os pequenos crustáceos tatuís saindo dos seus esconderijos e arriscavam alguns passeios, depois entravam para dentro novamente da areia.

Um estímulo! O tatuí sai e se expõe ao risco, busca seu alimento, acasala, vive, mas quando se esconde, aguarda o melhor momento para sair, como na madrugada em diante quando a praia estava vazia, longe de pegadas para todos os lados, de cachorros, de crianças, adultos e velhos.

Comecei minha conversa comigo pelo exemplo do tatuí. Saí de casa para me alimentar das minhas verdades, enfrentei a preguiça e vento frio matinal e o deserto de uma imensidão de água salgada que não se pode beber. E logo, entrei para dentro de mim, me escondi nos meus pensamentos, nos meus desejos mais ocultos, nos meus acordos, sobre o que quero e o que não quero, sobre minhas escolhas.

A bateria do celular apitou. Eu tinha esquecido de colocá-lo para recarregar, minha trilha sonora foi interrompida, e por sinal o barulho do estômago estava mais alto do que a música que se findava, pela fome de quem estava em jejum.

Quase seis em meia da manhã, me levanto, levando comigo o desenho do mapa que continuei a desenhá-lo para buscar os tesouros escondidos por mim mesmo.

Adiante dois pescadores no seu pequeno barco, mais a frente um casal se alongando descalços para começar a corrida leve pela praia, enquanto eu estou voltando em direção a minha casa.

Muita fome de alimento para o estômago, ao mesmo tempo saciado da minha fome de minhas verdades.

Anderson Heiz
Enviado por Anderson Heiz em 27/05/2017
Reeditado em 27/05/2017
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