Desfazendo-me

De vez em quando fica difícil

Difícil ser, exercer, querer, ter...

De vez em quando as mãos estão atadas e nada mais há a fazer.

De vez em quando a entrega ao nada é tão mais fácil que o simples acordar é incômodo.

Acordei, levantei, fiz, fui, estive, mas não vivi.

Não vivi verdades minhas, ou verdades sequer.

Vivi o nada, o além, e o que jamais quis para mim.

Vivi a futilidade de dizer que estou acomodada onde estou e ainda tive a audácia de afirmar a quem quisesse questionar que “estou bem”

Não estou bem! Não estou quem. Não estou alguém.

Estou esta carcaça perdida, repleta de sonhos, e impedimentos,

traumas e esquecimentos

Que nada mais de mim fazem, além de fraca.

Ou melhor, não me fazem. Desfazem.

Desfazem meus quereres, meus afazeres, minha progressão.

Desfazem quem sou, quem fui, e todos os meus planos.

Estar aqui nunca foi fácil. Mas “ser”, aqui, destrói estruturas previamente discutidas, sonhadas e fixamente erguidas.

É estranho não saber ser. Mas vai ver essa é a graça da vida.

Estar, ter, desestruturar e re-ser.

Louise Christine
Enviado por Louise Christine em 04/04/2017
Código do texto: T5960777
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