Desfazendo-me
De vez em quando fica difícil
Difícil ser, exercer, querer, ter...
De vez em quando as mãos estão atadas e nada mais há a fazer.
De vez em quando a entrega ao nada é tão mais fácil que o simples acordar é incômodo.
Acordei, levantei, fiz, fui, estive, mas não vivi.
Não vivi verdades minhas, ou verdades sequer.
Vivi o nada, o além, e o que jamais quis para mim.
Vivi a futilidade de dizer que estou acomodada onde estou e ainda tive a audácia de afirmar a quem quisesse questionar que “estou bem”
Não estou bem! Não estou quem. Não estou alguém.
Estou esta carcaça perdida, repleta de sonhos, e impedimentos,
traumas e esquecimentos
Que nada mais de mim fazem, além de fraca.
Ou melhor, não me fazem. Desfazem.
Desfazem meus quereres, meus afazeres, minha progressão.
Desfazem quem sou, quem fui, e todos os meus planos.
Estar aqui nunca foi fácil. Mas “ser”, aqui, destrói estruturas previamente discutidas, sonhadas e fixamente erguidas.
É estranho não saber ser. Mas vai ver essa é a graça da vida.
Estar, ter, desestruturar e re-ser.