Vulcânica - Nilza Freire

Como sou grande! Sou mesmo uma grande rocha tola detentora de ranhuras espectrais

Caminhante escritora atravessando a vida carregando algumas feridas doloridas demais

Quisera eu aspirar bastante oxigênio puro para expirar tudo e me inspirar mais.

Quem me dera se meu grilo falante, que é nulo e tímido, soprasse-me conselhos maduros e sensatos

Mas no porão da mente só ouço o tiquetaque recorrente do relógio acelerando meus passos

Quero me libertar, expelir meus medos incandescentes de luz ardente num jato

Sei que na hora líquida e acesa, tal qual a tela de Dali, o tempo derrete sobre a mesa

E minhas emoções mais nobres e caras ficam suspensas, presas na incerteza

Paro e penso: Por vezes até Van Gogh, um gênio supremo, admitiu longas pausas

Seus girassóis e noites febris também cederam espaço à sesta suave e à calma

E nem por isso esse mestre luminar foi menos espetacular na sanidade ou no delírio

Saber sopesar com prudência carne, mente e espírito é ter sabedoria e equilíbrio

Porém o vulcão que há em mim não tem hora para irromper, acho que quer meu martírio.