Como agora

Diversas vezes, em minha vida, parei, como quem contempla o horizonte e, por saber que dali em diante é o futuro, me vi forçado a rever o passado. Uma espécie de rito de passagem, como se um guarda na fronteira dissesse: "daqui pra lá não dá pra levar isso tudo, é preciso deixar algumas coisas". E em cada novo horizonte uma nova carga de lembranças, uma nova seleção de bagagem.

Mas o tempo nem sempre foi igual, às vezes havia muito dele e pouca bagagem, às vezes um tantinho de tempo, mas uma carga difícil de deixar, mais difícil ainda continuar levando.

Como agora.

Olhar pra trás é uma experiência interessante. Enquanto aquele eu que já não existe tenta lembrar como foi que aconteceu, o novo eu analisa o passado e vai acrescentando suas próprias conclusões. Assim nada é igual, é como reviver pela primeira vez tudo de novo de uma forma um pouco diferente.

Como agora.

Lembrar como me senti é igualmente interessante. Mas perigoso, porque a busca por arquivos remotos acaba sendo direcionada por como estamos nos sentindo atualmente. Se estamos bem procuramos por "alegrias", "conquistas", "realizações". Se estamos mal, nossa busca se volta para "perdas", "decepções", "fracassos". E por um instante supervalorizado parece que tudo foram alegrias... ou nada além de um grande fracasso.

Como agora.

Nem sempre o horizonte é fato.

Nem sempre o que nos faz avançar é o vento.

Nem sempre o passado é um fardo.

Nem sempre o fardo é pesado.

Mas de fato só se avança ao horizonte sabendo-se pra que lado o vento sopra, que lições se tira do passado, e, sendo ele pesado ou não, sempre, sempre é bom contar com alguém pra te ajudar a carregar os fardos.

Como agora...