La Valse

Disseram-me que o problema dos grandes filósofos existencialistas era criar suas teorias dentro de seus próprios quartos. Mas não seria o próprio psicológico suficiente para compreender a si mesmo, a existência? Olhei-me mais uma vez no espelho. Quão grande é a falta que sinto de mim mesma. Experimento da maior consciência que já me foi proporcionada, porém não posso utilizá-la pois as condições ao meu redor me bloqueiam. Eu estava ouvindo a deliciosa alma de Yann Tiersen transformada em música e quanto mais ouvia, mais pensava em como as pessoas não entenderiam a emoção que a música dele me trazia. Não emoção de dramatizar, mas um tipo de emoção que assusta. Os meus lábios tremiam juntamente aos meus braços. Os olhos vermelhos e profundos, nas lágrimas reluzentes chegavam a ganhar uma expressão de terror quando eu erguia minhas sobrancelhas. A mensagem que eles traziam, chegava a ser de ódio. Falta? Sim. Mas como? Falta de si mesmo, seria possível? E como eu poderia saber se algum dia eu já havia pertencido a mim para sentir falta de algo que nem era mesmo meu. Alma falsa, poesia falsa... Falsa lírica, metida a besta em um século onde as circunstâncias são sujas e onde só podemos encontrar o vazio de pessoas que também estão se procurando e que sentem falta por acreditarem que um dia foram felizes.