O Derramar do Estrume

O Derramar do Estrume

Inflamou tudo, até o calo antigo que impunha desconforto, que passava silente embaixo, expôs o esgoto terra afora. A brota dos sentimentos ligados a ira despertaram numa rapidez tremenda, pegando o autor de surpresa, fez levar à consciência o fato de que ainda morava tudo dentro.

A mágoa, o rancor, todas as tiriricas da razão, tecidas e escondidas no calar da boca em forma de palavras amaciadas e compassivas, voltaram fazendo festa. A enxurrada apareceu como onda macabra do tsunami a beira praia. Queria era atingir, ferir, aniquilar o interlocutor com a faca afiada da língua, sem dó! Afinal, mexeu lá dentro, apresentou o espelho dos porquês que dormiam mimados. Foram atiçados.

Vieram sem interesse de serem entendidos, queriam o retorno interno da dor do não ter, não ser correspondido, atendido na vontade.

Esvaziaram as velhas justificativas para o estouro, isso, após a tempestade dos dizeres manifestos. Imperando ao final o silêncio, colocando ponto final.

Prece, mantra, purificação, santificação , renuncia, desistência, desapego, devoção...não foram suficiente para aniquilar, arrancar pela raiz o que foi lançado boca afora.

O "Conhece-te a ti mesmo" soa aos ouvidos como caminho de desconstrução e recomeço.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 19/01/2017
Código do texto: T5886781
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