Leve

Leve-me os olhos porque minhas lágrimas já não me servem mais;

Leve-me os dentes, porque a carne que mata minha fome esta dura e fria,

Leve-me os lábios, porque o sorriso preso neles anda amarelado com as mazelas da vida,

Leve-me as orelhas, porque a música tornou-se uma marcha fúnebre;

Leve-me o nariz, que aqui só está de enfeite para me lembrar da minha fantasia circense;

Leve-me os braços, enrugados e velhos, flagelados pelo árduo trabalho de sustentação alheia.

Leve-me as mãos, calejadas pela obrigação de aplaudir futilidades.

Leve-me as pernas, arranhadas da lida cotidiana pela sobrevivência dos meus;

Leve-me o sexo, para que eu não caia em tentação e ouse desfrutar do prazer;

Leve-me a alma para que Deus não ouse requisita-la para si;

Por fim, enfim... de tudo me levares...Leve eu hei de ficar.

Mathos
Enviado por Mathos em 19/01/2017
Reeditado em 19/01/2017
Código do texto: T5886207
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