VOCÊ NÃO VEIO HOJE

Você não chegou. Esperei como quem espera a última gota de morfina depois de uma sentença de morte dolorosa. Mas não veio.Temo que não venha mais. Os ciclos se fecham e se repetem. Pouca coisa mudou desde a última vez. Uma pena não nos encontrarmos nesse plano Tanta coisa está passando e só tenho a certeza de que esse tempo em que estás longe não será recompensado. Só será falta, vazio, e saudade. Saudade de todos os momentos que não tivemos juntos, seriam muitos e seriam todos, todos. Cada vez mais me sou consciente das coisas que permaneceram congeladas. De novo nada mudou, exceto pelo fato de que meus olhos veem com maior clareza e a alma dói mais diante daquilo que um dia ousei sonhar. Dói porque a proximidade da inércia constante me paralisa. Como se fosse ontem me vejo fazendo os mesmos planos. Os fatos, incontestavelmente, me fazem perceber a realidade do que me permeia. Não acho que seja falta de ousadia. Talvez seja apenas cansaço de ver os sinos tocarem, as lâmpadas se ascenderem e ter que começar a sonhar de novo os mesmos sonhos, que insistem em tomar direções contrárias a mim. Assim como mais um temeroso fim de tarde, será mais uma data triste. Alguns bocados de anos se acumularam na essência de se prevalecer as minhas não vontades. Não há culpados. Queria eu culpar-lhe, mas não existes. Por horas, e às vezes por frações de minutos me dou conta de que, cada vez mais me é certo o futuro que não almejei. Inverti a contra barrancos os valores que um dia carreguei selados a mim. Percebo então que tento me reinventar. Querer coisas diferentes. Mas não sei como fazer com que a soma de dois e dois se torne diferente do que o é. Tento entrar em consonância com o meio físico, o material e o meio dos sentidos, sentidos meus. E como polos distintos, eis que se afastam, se negando render à adaptação. Eis o que me restou, restou pouco por demais. Restou quase nada. Apenas consciência, realidade, verdade escancarada me gritando aos ouvidos o que tentei por muito não escutar. E a certeza de que mais um ano se repetirá me faz julgar desnecessário trocar os calendários. Se estivesse aqui me faria rir e eu me sentiria especial em ter ao meu lado alguém como tu. A culpa não é sua. Talvez seja minha. Ou do destino, que insiste em nos desencontrar. Talvez haja um propósito maior ou talvez não. Acredito que entre culpados e inocentes minha carta de absolvição esteja distante. A sentença é paga todos os dias que se perdem na falta tua. Às vezes, beirando a loucura, tenho a sensação de que vais entrar pela minha porta e me dar um abraço apertado. Dirá também que estava com saudades. E a minha presença será para ti tão reconfortante quanto és para mim.

Caroline Campos
Enviado por Caroline Campos em 07/01/2017
Reeditado em 07/01/2017
Código do texto: T5874472
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