Fica

Fica, por favor. Só mais um pouco, estou com saudade! Não de você, fisicamente, mas dos momentos. De quando eu mandava bom dia, de quando eu te ligava para dizer te amo. Vem cá, vamos conversar, me dá mais uma dose falsa de companheirismo, eu preciso, sozinho não sinto mais liberdade, sozinho não vale mais a solidão. Vem cá, me dá um abraço, uma palavra de conforto, passa um café, senta, fica. Só um pouquinho. Vem, sua orgulhosa, sua feia, sua boba, minha. Eu senti isso, eu sei o que foi isso, eu sei, eu sei. Doeu, doeu, te ver morrer, te ler viver, te acompanhar, te reviver, reinventar. Foi lindo, era lindo, é horrível. Seria inesquecível. Porque fez, não acredito, porque me amou, vagamente, a troco de que? De me ver sangrar? Te daria café na cama, cafuné na cabeça, massagem no pé, amor no coração. A troco de que? Um peito rachado, amor falado, nunca vivido, inesperado. Todas as curvas feitas com precisão, uma casa, um carro, um filho, um louco, apaixonado, esquecido.

Rafael Calandrin