Há tempo(s)

Difícil compreender e conformar-se com o susto que a vida nos prega de vez em quando. O fato é que não sabemos ao certo a qual lado pertencemos nessa dicotomia entre vida e morte, suspiro e apneia: eterna apneia. Entre uma decolagem e um voo, inesperadamente, o derradeiro. Na dança do tempo, seu movimento como uma onda, que ora leva, ora traz: em momentos recebemos, outros perdemos. Quando é em nos que ele age, alegramo-nos com a chegada, mas infelizmente existem as viagens que temos que partir, e às vezes sem perceber.

Pois o tempo é como ar, tranquilamente ele segue quando está como brisa, e vai passando sem ser notado. Ele que leva o pólen que encontrará a terra e germinará. Repentinamente se transforma, cresce, ganha força, descontrola-se em forma de tufão ou furacão, e interfere na vida. O tempo é também como a água, manso flúmen de suaves curvas, que corre tranquilo através dos dias. Ela que trouxe aquele que salvaria os hebreus no Egito, foi a mesma que interrompeu a chance do pequeno Aylan de crescer em um lugar melhor. Em um dia ela resolve mudar sua rotina, recebe a água que cai do céu e cresce, transformando-se em: enchente, tsunami e também interfere na vida.

Vez em quando os elementos se misturam: Vem a tempestade, os ventos fortes se misturam à água, derrubam construções, enchem os rios, trazem enchentes, encharcam a terra, causam deslizamentos e desmoronamentos.

O problema é a natureza, a água, o ar, a terra ou o fogo? Não, pois todos acontecimentos são reféns do tempo e suas peripécias. O tempo que é a vida, mas também é morte. Uma criança nasce, outra é retirada morta do útero da mãe que sofrera um aborto involuntário. Um jovem filho único morre em algum lugar, outro, nasce quando larga as drogas. Uma mulher morre em uma curva na estrada, outra renasce ao vencer o câncer.

Não se deve querer compreender o tempo, pois é uma tarefa impossível. Enquanto tivermos a vida, devemos aproveitá-la como o garoto que ao pedir a bicicleta do amigo emprestada, ganhara 10 minutos pra utilizá-la como quiser. Ou, como o jovem que pela primeira vez avista o mar, e não contendo a alegria, mergulha repleto de gratidão na tentativa de abraçar cada partícula daquele novo companheiro. Assim também aconteceu com os jovens que miravam e desejavam o céu. Tinham-no como limite para que conseguissem alcançar tudo que sonhavam, e decidiram lá morar, deixando-nos aqui perplexos. Venceram o sonho de se tornarem jogadores profissionais. Venceram o sonho de vestirem as cores de um grande clube. E quando estavam vencendo o sonho de serem campeões, venceram a vida. Contribuíram para enriquecer a história linda do clube, e se foram. O clube não se foi, o clube permanece. Ele que já era, agora, para honrar aqueles que partiram, será eternamente imortal: assim como os que se foram.

John Canere
Enviado por John Canere em 07/12/2016
Reeditado em 30/08/2019
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