Pássaro Vermelho

Sentado à beira do lago estático, cervejas e petiscos vêm sem parar. Conversas avançam sobre assuntos aleatórios e o álcool começa a fazer seu efeito. O pássaro vermelho, que há pouco voava apaixonado pelo céu celestial, passa a prestar mais atenção na conversa trivial. Com mais cerveja, vinho e tequila, os sistemas se perdem sob o efeito do líquido volátil. O pássaro vermelho, cansado pelos voos imprudentes, invade o meu peito, buscando abrigo. A conversa que não muito cedo levava às risadas, agora nos conduz a balançadas de cabeça e concordâncias solidárias. Sangue corre quente pelo meu corpo, e sinto o coração amolecer. Ignoro o prosseguimento do assunto emotivo, e busco na agenda alguém para me consolar, de modo que o tempo passe, o sangue esfrie, e o pássaro deixe o meu peito. O sexo recém conquistado tem um sabor estranho de indiferença, e passado o momento entusiástico, sinto as bicadas iradas do pássaro que no meu peito se debate, como quem não concorda com os acontecimentos da noite. Ao amanhecer, sinto a ausência da ave vermelha; e com o perigo afastado, procuro dispensar a companhia tentando não parecer rude ou impaciente. O pássaro está no céu, voando ao sabor do vento; por vezes dando rasantes como quem ameaça retornar para o meu peito. Mas, mesmo distante de mim o suficiente para não me amolecer, está sempre lá, lembrando-me da minha necessidade ainda não conquistada.