Drama de Amor

Diante da lua majestosa

Sou uma centelha

Sem amor

Uma fagulha se apagando

Tornei-me

Barco à deriva

Vela sem chama

Céu sem estrelas

Rosa sem cor

Folha ao vento

Perdi o ar

O gás

Os versos

As esperanças

As lágrimas

Adeus mundo cruel

Das letras

Dos sonhos

Das insônias

Do amor idealizado

Um mundo perdido

Onde me encontro?

Num vácuo...

Sou incapaz de ler romances

Leio Álvares de Azevedo

Augusto dos Anjos

Ainda que Shakespeare

Fale de Julieta

Penso na sua agonia

Vou tomar um porre de outros autores

Não fale mais de amor

Queimem as páginas de palavras doces

Poesia que me engana

Vou para Mercúrio

Ao invés de ir a Vênus

Deuses...

Conspirando contra mim

O amor é cristal que quebra

Um sonho banal

Abro o vinho

De copo em copo me deixa leve

Tortura de amor

Este é o viver que esperei?

Este teatro que entrei?

Que peça é essa?

Abaixo o romantismo

Risquei-o

Com palavras dilacerantes

Quebrem a estátua do cupido!

Amor de alma... ah, quem o tem?

Deixo aos nobres, aos sublimes!

Pobres mortais que se iludem e se desiludem

Acreditando em olhares,

Em palavras,

Em poetas

Alma minha,

Recebe o meu coração

Não sou mais nada sem a poesia

Que renego...

Em tuas mãos entrego o meu livro!