Senhor tempo

Queria ser senhor do tempo. Ter domínio completo sobre o“é”, o “talvez”, e o “foi”. Possuir o poder de congelar certos momentos em meu existir, não somente ter na memória, mas ser capaz de reprisá-los e revivê-los sempre que precisasse .

Percebo a existência do místico quando ouço, sinto e vejo, tudo que acontece na ambiência. Busco respostas para entender como tudo se encaixa perfeitamente: desde esse imenso azul de perder de vista, aos pequenos insetos que insistentemente picam minhas pernas.

Hoje a praia está vazia; é muito cedo ainda, então extraio com todas as forças o que me expõe o presente. Almejo sugar o que nele possui, que há poucos era indecifrável: enigmas da vida verbo. Prefiro assim, do jeito que está, pois consigo ouvir o som imaculado, sem interferências; também não interfiro, apenas observo sentado.

Minha vida se movimenta como essas ondas: com idas e vindas, novos obstáculos, novas formações, mas mirando a cabeça-de-praia sempre. Existe uma força que tenta puxar-me para trás, dificultando o trabalho. Mas a força que vem de dentro, que é o motivo de existirmos, faz-me persistir. Faz com que os ciclos se alterem , renovem-se , e se solidifiquem.

A resposta certamente está em como encaro as circunstâncias. No problema de hoje, amanhã, poderei encontrar o antídoto que me tirará da mórbida indecisão que me tem dominado com convulsões constantes: exangue. Devo aprender a pôr em prática a lição ensinada pela aves marinhas, que adejam suas grandes asas livremente, e pacientemente, enquanto caçam o alimento que as manterão vivas. Poderiam ter o vento como inimigo, um algoz opositor de seu destino; mas não, utilizam-no a seu favor, planam com seu auxílio, homogeneízam-se ao ar.

Despeço-me de meu santuário, para trás, ficam as pegadas que meus pés deixam na areia. Espero um dia retornar quando tudo estiver concluído, e ter a certeza que não precisarei partir. Sei que é preciso cumprir etapas, galgar um degrau de cada vez pra conquistar o que busco, e que a caminhada ainda é longa, mas é menor que antes. Ao recordar a primeira vez que daqui saí, e de quão imaturo era, tenho certeza de que estou no caminho certo. Não sabia absolutamente nada, enxergava superficialmente: analfabeto da vida. Hoje, sou muito diferente, já a leio com mais destreza, e sei que da próxima vez que retornar, estarei ainda mais evoluído, e mais próximo da chegada.

John Canere
Enviado por John Canere em 22/10/2016
Reeditado em 30/08/2019
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