Confissão

A boca...

os lábios...

A boca e os lábios...

A carne preenchendo como enchimento

até o limite dos traços...

estendendo os contornos...

alongando...

delineando...

E esses lábios são almofadas, travesseiros

parece que fabricados, mas não!...

Naturais...

Perfeitos...

Tanta dor de querer

essa dor de prazer, do querer ser só minha essa boca

que me é tortura...

Então confesso:

nem eu mesmo sabia

gosto dos tons de vermelho...

E uma mulher crepitando fogo na crina

essa égua

dilata minhas narinas...

Não posso mais esconder de ti a tua natureza

que há muito percebi:

és ruiva!

Apesar de morena parda

és ruiva!

E tu, que te preservas com fiel morenitude

que nunca pintastes os cabelos

teus cachos...

tu morena parda de cachos negros

tu que me és deliciosa morena e me atiça o ciúme

eu te confesso

há muito descobri:

Não és morena

Tens um fogo que se espalha

Teu sinônimo é incêndio e tua natureza é rubra

tudo em mim em relação a ti, a priori

é paixão

é pecado...

Por isso nunca te contei que percebi a imagem que refletias...

eras morena e me seduzia

mas és ruiva pela natureza e assim seduzes muito mais

Então se fores à farmácia

adquira lá uma dipirona, analgésico qualquer

que dê carona à minha dor de cabeça

Pois se comprares tinta vermelha

se vestires esta coroa

serás para mim, insegurança insuportável

e para o mundo inteiro...

irresistivelmente sedutora

Cassio Poeta Veloz
Enviado por Cassio Poeta Veloz em 21/10/2016
Reeditado em 14/09/2023
Código do texto: T5798291
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