Confissão
A boca...
os lábios...
A boca e os lábios...
A carne preenchendo como enchimento
até o limite dos traços...
estendendo os contornos...
alongando...
delineando...
E esses lábios são almofadas, travesseiros
parece que fabricados, mas não!...
Naturais...
Perfeitos...
Tanta dor de querer
essa dor de prazer, do querer ser só minha essa boca
que me é tortura...
Então confesso:
nem eu mesmo sabia
gosto dos tons de vermelho...
E uma mulher crepitando fogo na crina
essa égua
dilata minhas narinas...
Não posso mais esconder de ti a tua natureza
que há muito percebi:
és ruiva!
Apesar de morena parda
és ruiva!
E tu, que te preservas com fiel morenitude
que nunca pintastes os cabelos
teus cachos...
tu morena parda de cachos negros
tu que me és deliciosa morena e me atiça o ciúme
eu te confesso
há muito descobri:
Não és morena
Tens um fogo que se espalha
Teu sinônimo é incêndio e tua natureza é rubra
tudo em mim em relação a ti, a priori
é paixão
é pecado...
Por isso nunca te contei que percebi a imagem que refletias...
eras morena e me seduzia
mas és ruiva pela natureza e assim seduzes muito mais
Então se fores à farmácia
adquira lá uma dipirona, analgésico qualquer
que dê carona à minha dor de cabeça
Pois se comprares tinta vermelha
se vestires esta coroa
serás para mim, insegurança insuportável
e para o mundo inteiro...
irresistivelmente sedutora