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Não trago dores soltas,
perdias em mim.
Estão grudadas em amores que tive.
(Tive e tenho,
nenhum amor deixei,
ardis me perderam, e só.)

E é lá, dentro deles, que elas estão,
as dores, feito tumores.
Tão entranhadas
dentro deles
que não posso arrancá-las
sem matá-los.
Cuido só para que elas não sejam soberanas.

Por isso, me fiz poeta:
atalaia das dores que carrego,
guardião dos amores
que vieram,
que guardo…
que zelo.