Conversas com o tempo
Estou à beira de, à deriva de... Sinto milhares de sensações: solidão, moléstia, cansaço, tédio, inutilidade, estagnação, angústia.
Há uma dor: a dor de não proceder, mas retroceder. A casa que habito floresce, a mobilia cresce, os livros se multiplicam nas estantes construídas de palavras, textos, conhecimentos. Mas, necessito adentrar a cavidade do prazer, expelir o liquido da vida e gerador de eternas satisfações: o efeito é rápido, mas o resultado se revigora à medida que sucede em ternuras líricas e de uma profanidade afetuosa.
Sinto prazer: no instante em que o ser colide no termino da passagem, e cheio de emoção, roda em fuso horário. Desligado do tempo, ele cava até as ultimas consequências, o último suspiro de prazer. Espreme. Perfura. Descansa. Retoma o processo. Procura uma nova posição. Perfura até... o êxtase transcendental. O líquido da vida, disperso dentro de mim, faz-me completo de alguma forma como se naquele instante a vida fizesse algum sentido e me retribuísse a sensibilidade, a beleza antes adorada.
Agora, sou apenas um ascético! Esperando o sopro vital que revigore e realize esse alicerce de sonhos. O porão tomou a casa; a casa tornou-se o porão e eu estou dentro do buraco, na parede, roendo as migalhas de esperança; mas, um dia, tomarei o meu lugar: o gato preto que antes fui: misterioso, mas decidido, irá tomar o rumo e vaguear nas vielas do prazer de simplesmente ser.