Mas isso é um caso de poesia!

E o médico disse à mãe:

— Ora, senhora, o que posso te adiantar é que isso é um caso de poesia. O menino é um poeta!

E a mãe exasperou-se:

— Mas isso é grave, Doutor?!

— Bem, grave a vida por si já é. Posso apenas afirmar uma coisa: Muitas vezes, ela não é fatal. É sempre vital para quem a ama. Eu mesmo. Tenho até estudado alguns casos, profundamente. Se é capaz de prejudicar, é ao próprio poeta, principalmente, mas por causa de quem é vazio... quem não entende a poesia... A da vida.

— E tem cura, Doutor?

— Temo dizer que não. Rimbaud, por exemplo, foi um caso bem problemático. Acho que nunca se curou realmente, mas um dia, muito jovem, deixou de fazer versos... Bem, não deixou de ser um poeta jamais... nem de ser problemático...

— Então tenho ou não de ficar preocupada?

— Tem. Não. Muitas mães sofreram por ter filhos poetas, mas acho que a maioria delas orgulhou-se deles. Sabe: Eles curam o mundo. São mais médicos do que eu. Faça o seguinte, se o ama, aqueça-o. É o calor, é o excesso de vida no coração que mantém a poesia acesa. E perder a poesia, muito mais a um poeta, isso é morte inevitável.

— Vou cuidar dele.

— É, rapazinho, fico feliz por ter uma mãe assim. Aqui está a receita. Pegue na livraria.

— Como assim?

— É Manuel Bandeira. Na farmácia convencional não tem. Mas penso que possa ser a melhor coisa para seu filho. Remédio como nenhum outro.

— Vou comprar. Obrigada, Doutor.

— Ok. Até mais.

— Fecho a porta?

— Pode deixar assim.