As quatro estações e a vida


Prefácio de Marcelo Garbine, publicado na Antologia Quatro Estações

Nos idos de 1999, quando eu ainda cursava a faculdade de economia, muito me preocupava o fato dos Estados Unidos não terem assinado o tal do Protocolo de Kyoto, alegando que, caso reduzissem a emissão de CO2 na atmosfera, poderiam prejudicar a atividade econômica do país.

Por isto, participei de vários congressos e baterias de palestras acerca do assunto e cheguei a cogitar redigir a minha monografia sobre este tema.

Depois de uma semana inteira confinado num hotel no qual ocorrera um evento com debates a respeito desta matéria, senti-me saturado com tantos dados técnicos e comecei a pensar o conteúdo do modo que mais me aprazia: poeticamente.

Lá do fundo da sala de conferências, vi um jovem universitário escocês dirigir-se à tribuna e dizer que o aquecimento global não existia, era meramente uma falácia e estava tudo em ordem com o clima no mundo. Sua oratória era contagiada de otimismo e suas previsões repletas de coisas boas que, consoante seu entendimento, suceder-se-iam nas décadas vindouras.

O segundo palestrante, biólogo atuante no Greenpeace, foi bem mais moderado. Consentiu alguns tópicos evidenciados pelo precoce colega, mas salientou que deveria ser aplicado um policiamento geoclimático para impedir que a ganância do setor industrial ameaçasse a natureza no que tange a poluição.

O discursista seguinte, um aposentado doutor em geoclimatologia, fez questão de enfatizar a sua longa experiência na profissão para divergir de seus pares, mostrando-se tranquilo em relação à atualidade e reticente quanto ao futuro.

E, para encerrar a solenidade, foi ao púlpito um sábio senhor que aparentava ter mais ou menos oitenta anos. Diferentemente dos demais, não expôs uma única vertente e nem salvaguardou uma opinião, apenas esclareceu os elementos, conjecturou e, humildemente, delineou uma gama de hipóteses.

Creio que ninguém mais naquele recinto olhou para os experts na mesma condição que eu. Pelas reações fisionômicas dos espectadores, deu para perceber que cada um dos quatro conferencistas tinha os seus adeptos. Já eu concordei com todos. Todos estavam certos, se observados pelo ângulo do contexto que se propunham.

E também acho que lá não havia mais nenhum poeta além de mim. E, como sui generis representante da arte de escrever em versos e enxergar o mundo de forma romântica, examinei-os como se fossem as quatro estações do ano: a euforia da juventude (primavera), a luz da madureza da meia idade (verão), a serenidade de um sexagenário (outono) e a sabedoria da longevidade (inverno), período em que o calor da emoção dá vez ao gélido raciocínio, isento da calidez empolgada na defesa de pontos de vistas parciais.

Desta feita, vislumbrei que o quarteto de temporadas climáticas não somente alternava-se no âmbito do perpétuo ciclo de doze meses como também repetia-se ao decorrer de toda a existência de um ser vivente.

Acordamos de manhã, contemplando um novo crepúsculo, cheios de esperança com a oportunidade a nós ofertada de presente pelo universo de colocar em prática as ações que nos conduzirão pelas veredas dos nossos sonhos. Trabalhamos no início do entardecer, com o sol a pino, empenhados na concretização de nossas metas. Atenuamos no início da noite, satisfeitos com mais um tijolinho assentado na construção da nossa casinha de anseios, vendo as folhas da criação serem renovadas. E descansamos no frio da madrugada, momento em que uma leve dor incomoda nas juntas dos ossos porque todas as dores doem à noite, porém com a certeza de que, logo, virá uma viçosa alvorada.

A poesia está no circuito da vida, no passar dos minutos e no escoar de uma energia que se esvai...
Envolta pelo firmamento de distintos espaços do globo terrestre, a poesia acontece sob a pena de poetas de díspares faixas etárias, gêneros e localidades geográficas.

Nesta antologia, registramos, em formato de letras versejadas, experimentos que são registros testemunhados ao vivo e a cores.

Linhas que exalam vitalidade são, aqui, externadas através da óptica de quem repousou o rosto na brisa fresca, tateou a areia quente, molhou as extremidades dos dedos no orvalho das pétalas das flores e admirou o reflexo da lua na grama álgida.

Agora, a poesia que mora dentro de você, leitor, vai entrar em contato com os encantos que habitam outros corpos.

Sejam eles confiantes como a primavera, alegres como o verão, plácidos como o outono ou melancólicos como o inverno, é hora de, simplesmente, sentir...