ela é

Ela é uma montanha que eu vejo de longe. Cada piscada que dou, cada vez que fecho o olho, vejo mil mundos e mil histórias que quase vivi ou que vou sonhar quando tiver uns 30 anos e conhecer o mundo. Quando ela vem, ela já vem sem nada: sem pudor, sem culpa, sem brilho no olhar. Me concentro em seus ombros se ajeitando. Se encolhendo de frio, ela junta as duas mãos e espreme seus seios no desejo de deixar de ser montanha e desabar sobre alguém que seja mar e a navegue ou que seja continente e a abrigue ou que seja vento e a leve grão por grão ou que seja chama e a queime vindo do centro da terra. No final, ela só me olha de costas por trás de seus ombros numa obliquidade que só seus ângulos podem explicar e que só o pôr-do-sol em seus olhos pode espelhar