dia do índio

há uma geração apenas eram indios, tem a pele vermelha, não são negros, são pardinhos, não querem ser negros e nem índios, querem ser outra coisa, sair em capas de revistas, em programas de televisão baratos

pensam não ser mais índios porque comem em pratos ou sacos de produtos industrializados, lixo, lixo, marcas, sociedade de consumo, asco.

muitos pensam não ser mais índios, esqueceram o nome das tribos, o nome das avós estupradas, o nome de qualquer erva, de qualquer folha e flor, divindade, nuvem que voa, ramo, chuva, sol, riacho

outros pensam não ser mais índios porque tem nomes americanos, outros porque tem corpos plásticos, próteses, cabelos escovados

muito pensam que deixaram de ser índios , porque não estão no meio do mato, e moram encaixotados

na selva de concreto, selva das cidades, vendem-se e vendem-se por canetas e tênis e gravatas e carros e aparelhos de ar condicionado

e bíblias e futuros no colo de algum pai, e divisas e arames farpados e títulos de propriedade e tabelas de campeonatos

e ouvem rádio

e escutam falar em outra vida, e em falências, juros altos

deixaram de ser índios de viver na floresta

de fumar cachimbo, de andar pelado

de perguntar ás estrelas, onde é que me acho?

deixam de ser índios somente para si, nunca vão deixar de ser índios pros capitães do mato